sábado, 29 de novembro de 2014

Adeus, Chespirito!


Ilustração: Henrique Lima
Texto: Guilherme Fernandes


O post vem com um leve atraso, pois ontem não deu tempo de escrever alguma coisa. A triste notícia foi recebida em um horário bem complicado, na noite de uma sexta-feira.


Como todos sabem, ontem foi um dia triste para o humor. Roberto Gómez Bolaños, o Chespirito, faleceu aos 85 anos, e com ele uma parte da infância de (quase) todos nós que crescemos durante as décadas de 80 e 90. 

As redes sociais rapidamente se manifestaram e através delas pudemos perceber uma comoção generalizada que só lembro de ter visto antes com a morte do Ayrton Senna, em 1994, ou com a tragédia que levou as vidas dos Mamonas Assassinas, em 1996. 

Isso é uma coisa curiosa: algumas vezes nós nunca conhecemos pessoalmente certas pessoas, mas nos apegamos a elas como se fossem amigos de longa data, de tão presentes que elas se fazem em nossas vidas e no processo de construção de nossas identidades individuais. 

Sim, não é exagero nenhum dizer que, com seu humor, Chespirito e suas diversas personagens tiveram forte influência sobre a formação de meu caráter e, acredito, de milhões de outras crianças. Pois além do inquilino inadimplente que detesta o trabalho, dos vizinhos arrogantes, dos apelidos maldosos e das pancadas no senhorio, o seriado traz algumas lições importantes. 

Quantas vezes vimos o Seu Madruga apanhando da Dona Florinda na cara injustamente, e ainda assim nunca levantando um dedo contra uma mulher? E da vez em que, mesmo sabendo que provavelmente apanharia, assumiu a culpa pelo Chaves ter comido todos os churros? 

Quem não se lembra do episódio em que o Seu Barriga inventa uma desculpa para perdoar os 14 meses de aluguel do Seu Madruga, pois sabia que ele e sua filha não teriam para onde ir? Ou do mesmo Senhor Barriga levando o Chaves pra passar férias em Acapulco ao saber que ele tinha ficado sozinho na vila enquanto todos tinham ido se divertir?


Ilustração por Guilherme Ambrozio


Chaves (El Chavo del Ocho) me ensinou bordões que eu me pego repetindo o tempo todo no dia-a-dia;
Me ensinou que uma bolada na cabeça, um chute na canela e um soco na cara produzem o mesmo som;
Me ensinou que a vingança nunca é plena: mata a alma e a envenena;
Me ensinou que quem dá e tira, com o diabo fica, sua mão se danifica, sua vó será maldita e sua sogra ressuscita;
Me ensinou que investir na plantação de carambolas pode ser um empreendimento muito lucrativo;
Me ensinou a desenhar uma máquina de escrever de uma tecla só (e uma carta escrita com essa máquina), um tabuleiro de xadrez pra principiantes, um sanduíche de ovo (será que ele se inspirou no escudo dos Lanternas Verdes?);
Me ensinou que a Aritmética...

Mas também me ensinou que as pessoas boas devem amar seus inimigos... Que não se deve julgar as pessoas pela aparência (quem não se lembra da "Bruxa do 71" dando pirulitos de presente pras crianças da vila?). A não acusar as pessoas sem provas (quem não ficou com pena do Chaves quando todos o acusaram de roubar as coisas das casas vizinhas?).

E também me ensinou que podemos ser eternamente jovens. Como foi o próprio Bolaños, que mesmo aos 85 anos, nunca deixou morrer em seu interior o menino Chaves. E como eu já disse anteriormente, mas acho importante lembrar: uma parte de mim e de todos nós do Maneira Burra se foi junto com ele.

Estou triste como se tivesse perdido um velho amigo. Mas, a despeito de toda essa tristeza, sempre vou preferir lembrar das gargalhadas que ele e sua equipe me proporcionaram durante todos esses anos. E sei que ainda vou rir muito toda vez que eu estiver passando os canais e me deparar com mais uma das intermináveis (e merecidas) reprises. 

Que as próximas gerações também possam rir com seus esquetes geniais e aprender com eles também.

Como diria o narrador esportivo Deva Pascovicci: "Você foi SENSACIONAL, Bolaños"!

Adeus, e muito obrigado!

Fica aqui a homenagem feita pelo nosso amigo Henrique Lima:




Guilherme Fernandes - Corintiano, Maloqueiro, Sofredor e de luto por um ícone que nos deixou na sexta-feira dia 28/11.

2 comentários:

  1. Emocionei aqui ao ler, meus olhos estão marejados... a ficha ainda não caiu.
    Eu também vou continuar me lembrando dos tantos momentos de riso e simplicidade que inundavam minhas tardes no SBT. Cresci com o Chaves e Chapolim, lembro de uma época em que eu nem tinha TV ainda, passava férias na casa da minha tia assistindo todos os dias e qd voltava pra casa, brincava com meu irmão cantando sem parar as músicas do seriado...
    Saudades eternas.
    Adorei o post.

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  2. Realmente. O texto está ótimo. Concordo com a Drih. Ele vai deixar saudade.

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