sábado, 5 de abril de 2014

Adeus, José Wilker.



*Por Guilherme Fernandes

José Wilker de Almeida nasceu em Juazeiro do Norte, no Ceará, em 20 de agosto de 1947.

Em sua cidade natal, as informações chegavam com atraso. Lá, o feriado pela morte de Getúlio Vargas só foi decretado dois dias depois do ocorrido. Por ser uma cidade sem muitas opções de lazer, José passou grande parte de sua infância e adolescência lendo, desde romance do Plínio Salgado até Dostoiévski.

Quando saiu de casa, foi morar em Recife e fez teatro de rua, atuando em peças políticas locais. Aos 19 anos - em 1964, ano do Golpe Militar - foi para o Rio de Janeiro tentar a vida, só com a roupa do corpo, sem ter dinheiro nem carteira de identidade. Sem ter onde morar, dormia no banco de trás de um ônibus que ia do Grajaú ao Leblon e voltava. Chegou também a dormir na praia e morar em um depósito atrás da Central do Brasil. Por várias vezes, teve que escolher entre ir de ônibus para o ensaio de uma peça ou almoçar, sendo que seu almoço consistia em café com leite e pão com manteiga.

Cursou Sociologia na PUC. Nesse período, se declarou pobre e morava no diretório estudantil, almoçando no restaurante sem pagar. Para ganhar algum dinheiro, pegava a relação de livros que os professores sugeriam, roubava nas livrarias e vendia com desconto para os alunos.

Seu primeiro papel na televisão foi o de um cadáver coberto. Meses depois, participou de um esquete do Ronald Golias, no qual Golias ganhava um apito de chamar mulher que não funcionava, e quando acionado, Wilker e mais de 40 outros homens entravam no palco.

Em 1972, foi convidado a estrear na teledramaturgia. Interpretou um filho de um bicheiro na novela Bandeira Dois e começou ali a ganhar notoriedade. Sua estreia nos cinemas foi no filme A Falecida (primeiro filme também de Fernanda Montenegro). Mas seus primeiro trabalho de destaque no cinema foi a personagem Vadinho, do clássico Dona Flor e Seus Dois Maridos, em 1976.

Trabalhou também como diretor da série Sai de Baixo, da TV Globo, até 2002, e como crítico de Cinema no canal Telecine.

Hoje, 5 de abril de 2014, um infarto fulminante tirou a vida de José Wilker, tendo ele deixado um legado de 49 trabalhos na televisão como ator, incluindo seriados, minisséries e telenovelas, e 4 como diretor. No cinema, atuou em 68 filmes.

Foi, sem dúvida, um dos melhores artistas cênicos de nosso país, e deixará muitas saudades. Sempre nos lembraremos de personagens como o já citado Vadinho, o deputado Tenório Cavalcanti, o impagável Giovanni Improtta, e o misógino Jesuíno Mendonça.

José Wilker, você foi "Felomenal".

"O pior elogio que alguém pode me fazer é me chamar de natural. Eu não sou natural. Eu sou ator. Eu minto."

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Fonte: Revista Playboy nº 352. Novembro de 2004. Capa: Luiza Tomé. Editora Abril.

Por Guilherme Fernandes - corintiano, maloqueiro e sofredor.

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