quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O Terror desembarca em terras Tupiniquins!


“- Hoje eu como carne de qualquer jeito, nem que seja humana. 
- Cuidado Zé, o diabo tenta. 
- Se eu o encontrar, vou chamá-lo para jantar em casa” 


O dialogo da personagem Zé do Caixão com sua esposa, no filme "A Meia Noite Levarei sua Alma", traduz bem a essência do que viria a se tornar o ícone do terror no Brasil. Em uma sexta-feira santa, o Zé resolve comer carne enquanto ri em zombaria da procissão que passa abaixo da janela de sua casa. Ateu e niilista esse era o Zé do Caixão, um vilão para a sátira que fazia da crendice e superstição do público brasileiro dos anos 60.  

Antes do Zé do Caixão, o único expoente brasileiro no gênero horror era Alberto Cavalcanti, com o clássico "Na Escuridão da Noite ( Dead of Night )", de 1945, filme ao qual dirigiu em parceria com Robert Hamer ( Kind Hearts and Coronets ), Charles Crichton ( The Lavender Hill Mob ) Basil Dearden (Victim). Filmado no Reino Unido, contava a história de Walter Craig, arquiteto atormentado por constantes pesadelos. Para relaxar, acaba indo passar um final de semana no campo e encontra outras pessoas que contam suas histórias. O filme é dividido em cinco contos que se encontram com o enredo principal. São essas "O Motorista da Funerária", "O Conto de Natal", "O Espelho Assombrado", "O Conto do Golfe" e, por fim, "Ventríloquo Idiota". 

Porém, apesar de ter um brasileiro dirigindo o filme, não teve impacto no Brasil. Isso ocorreu apenas em 1963, com o filme "A Meia Noite Levarei sua Alma", de José Mojica Marins. Custeando ele mesmo a sua produção, com o risco de não ter retorno., foi em frente com o longa que o mesmo dirigiu, produziu e protagonizou , dando início ao gênero de terror no cinema nacional. O personagem brinca com as crenças populares, aterrorizando os moradores daquela pequena cidade. Assim sendo temido e respeitado por todos, usando disso para reinar sobre os demais, tirando proveito dessa situação. 

O filme continha violência e estupro, o que complicava ainda mais para a recepção do grande público. Em seus primeiros minutos de filme, ele conta com uma bruxa alertando o público para o peso do filme, e dizendo para quem não tem coração forte para sair do cinema, o que realmente aconteceu segundo entrevista do próprio José Mojica Marins. 

O investimento em roteiros originais fora do comum nunca foram bem vistos, mesmo hoje em dia. Portanto, tudo mudou de figura quando o ator, diretor e produtor, José Mojica Marins, financia e protagoniza seu próprio roteiro e lança nos cinemas nacionais o filme “A Meia Noite Levarei sua Alma”. O ator resolveu juntar os alunos de sua escola de atuação, pegou emprestado móveis, objetos cenográficos, construiu túmulos de papelão, roubou arbustos do Largo do Arouche em São Paulo para fazer uma floresta cenográfica, e, em um estúdio de 20 metros quadrados, montou seu set. Acabando com a mesmice dos filmes da época, Zé expôs a população a algo novo, chocando o público e a crítica, e sendo "condenado" pela tradição cristã fervorosa da época. Foi também criticado por, ás vezes, exagerar na nudez e sensualidade (quase um soft-porn), mas é como diz o aclamado diretor italiano Dario Argento, "é algo que faz parte do povo latino, essa paixão e sensualidade". Mas irei falar sobre sensualidade nos filmes de horror em outro post... 

Ambrozio, o Desocupado - Phd em Soft-Porn. Clama por um cast no tema

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