Para alguns, foi um idiota. Para outros, um grande estrategista, o único a enganar Napoleão Bonaparte. D.João VI foi um rei, que sem a menor dúvida, marcou a história de Portugal e a nossa história. O caricato gordinho que comia frango possuía inúmeras características engraçadas (outras até nojentas). Estas características e algumas outras histórias caricatas serão contadas nesse pequeno texto (COM NENHUMA PRETENSÃO ACADÊMICA). Quero mostrar o lado bizarro deste rei português. Num futuro próximo, escreverei outro texto de uma maneira mais séria, abordando o histórico do rechonchudo, o por quê de tamanho despreparo para ser rei e as coisas boas do último rei absolutista de Portugal. Nas palavras do historiador Oliveira Lima, “D.João foi sem dúvida alguma no Brasil, e ainda é, um rei popular”. Popularidade esta, com certeza, vem ligada as características e histórias relacionadas à D.João.
D.João era um rei muito incomum, a
começar pelo seu porte físico. Utilizando-me das palavras do historiador Ângelo
Pereira, segue como era o nosso rei:
Testa alta,
desproporcional ao rosto, sobrancelhas bem delineadas, papada e bochechas
caídas, olhos meio esbugalhados, nariz fino, lábios grossos, boca entreaberta,
pernas pequenas e grossas, pés miúdos, barriga protuberante, mãos gorduchas com
covinhas nas juntas dos dedos, ombros caídos e pescoço curto. Os olhos eram
pequenos, escuros, assustados, desconfiados, inseguros, como a pedir permissão
para seus atos.
Dá pra perceber que D. João não era
apenas mais um rostinho bonito na realeza portuguesa.
Como rei, era uma pessoa muito
indecisa. Vivia jogando ministros um contra o outro. E tardava muito para tomar
decisões (Mas seria isso um defeito?! Aguardem...). Muitos o achavam um
verdadeiro "bundão". Não tinha uma visão positiva entre seus partidários e nem
entre seus inimigos. O general Junot disse em uma carta para o Ministro das
Relações Exteriores da França, Charles Maurice de Talleyrand:
É um homem fraco, que
suspeita de tudo e de todos, cioso de sua autoridade mas incapaz de fazer-se
respeitar. É dominado pelos padres e só consegue agir sob a coação do medo.
Não era muito chegado á higiene
pessoal. Não é segredo para ninguém que os europeus não são tão fãs de banhos.
Tanto é, que quando os primeiros gajos chegaram à terra Tupiniquim, estranharam
o costume dos moradores locais de tomarem tantos banhos de rios. D. João não
era diferente. Mais do que isso, levava isso muito a sério. Segundo fontes de
Águas de Lindóia, D.João teria tomado apenas dois banhos: um quando nasceu e
outro por indicação médica. Nem com a chegada ao Brasil isso mudou. Na verdade,
sua estada na terra do carnaval só intensificou o problema: D. João tinha medo
de siris e caranguejos. É impossível imaginar que D.João substituísse seus
franguinhos por frutos do mar.
O desleixo não ficava apenas na
higiene pessoal. Passava também pelas roupas do gordinho. Quando se pensa em
reis, logo se pensa em luxo, artigos finos. Mas não é o caso do nosso rei. A
indumentária predileta de D.João era uma “casaca sebosa de galões velhos, puída
nos cotovelos” diz o historiador Pedro Calmon. Na algibeira desse casaco,
estavam alocados os tão famosos franguinhos assados na manteiga, sem ossos, que
o rei comia durante o intervalo das refeições. Mesmo a roupa apresentando
inúmeros rasgos, o rei continuava a usar. Seus criados esperavam ele dormir
para poder costurar os rasgos. Dessa história, consigo ver um lado positivo:
D.João foi o pioneiro da moda Punk.
Essa repetição das roupas se liga à outra
peculiaridade do rei luso: era um homem de hábitos. Hoje ele seria
diagnosticado com TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Ele seguia fielmente
sua rotina diária, sem mexer em nenhum aspecto. O pintor Manuel Porto Alegre
comenta:
Se uma vez dormia em um
lugar, jamais queria dormir em outros, levando isto ao ponto de não admitir que
o leito ficasse mais ou menos aproximado à parede do que junto dela. Qualquer
mudança que experimentasse, desconfiava dela e se aborrecia com quem a fizesse.
Além de ser diagnosticado com TOC,
hoje D. João seria diagnosticado com depressão. O monarca sofria de crises
depressivas (Imagine-o deitado num divã e comendo os franguinhos). Em
alguns períodos, se afastava de todos, vivia sozinho. Nem a sua atividade
predileta, que era a caça, queria mais fazer. Além disso, sofria de vertigem e
crise de ansiedade. Aproveitando-se disso, a rainha Carlota Joaquina tentou um
golpe de estado, para poder governar sozinha o país. Golpe esse que não foi o
primeiro e nem o único.
Percebe-se que a relação de D.João
com Carlota Joaquina não era das melhores. Como todos os casamentos reais, o
enlace foi arranjado e apenas para estreitar os laços entre Portugal e Espanha.
Esta era uma prática comum dos reinos absolutistas. E tem gente que reclama de
agências de encontro... Muito antes dos namoros pela internet, casaram-se a
distância. Conheceram-se um mês após o casamento. Detalhe para as idades: a
Carlota tinha 10 anos, enquanto D.João tinha 17. Apesar de serem tão
“avançados” por esse casamento à distância, só deitaram na mesma cama 6 anos
depois. Mas não perderam tempo: tiveram nove filhos. Se bem que... D.João não
garantia a paternidade de todos (bora chamar o Ratinho, que isso é DNA). Muito
se levantou sobre casos extraconjugais da rainha. Nunca houve confirmação de
nenhum. Com o tempo, cada um foi morar em um canto: Carlota e a família ficaram
no Palácio de Queluz, enquanto D.João foi viver no Palácio de Mafra, com os
frades. No Brasil, a distância continuava: D. João foi morar na Quinta da Boa
Vista, enquanto Carlota foi morar numa chácara em Botafogo (Vasco da Gama
então, nem pensar!!)
D.João não foi corno omisso. Eugênia
José de Menezes, dama de honra de Carlota, foi o grande amor do nosso querido
rei caricato. Em 1803, ela apareceu grávida. O maior suspeito foi D.João que
mantinha encontros secretos com a rapariga (não é o que estão pensando... Rapariga
é moça em Portugal). Quando tudo parecia
perdido, o médico João Francisco de Oliveira ( que ajudou o rei nos encontros
com a moça) fugiu com ela para Espanha. Eugênia teve sua filha num convento.
Morreu em 21 de Janeiro de 1818, época em que D.João já era rei. Todas as
despesas do amor de D.João foram pagas pelo monarca. Já Oliveira, em 1820,
ganhou a comenda da Ordem de Cristo e encarregado dos negócios de Portugal em
Londres. Afinal, uma mão lava a outra...
Mas não para por ai... D.João pode
ter sido o primeiro rei homossexual que se tem notícia. Como já dito, D.João
vivia muito sozinho (tanto em Portugal, como no Brasil) e teria se “envolvido”
com o camareiro Francisco Rufino de Sousa Lobato. O camareiro teria a função de
masturbar o "joãozinho" do rei com certa frequência. Um padre teria visto tal cena, mas foi
logo transferido para Angola. Não se sabe se o caso foi real ou se foi uma
intriga. Mas o fato é que Francisco José Rufino recebeu muitas honrarias e
promoções nesse período.
Como vimos, D.João era um rei muito
caricato e também com muitas esquisitices.
Mas sua vida não se resume a esses casos bizarros. No próximo texto,
falarei um pouco da história do Rei e a vinda para o Brasil.
Caso gostaram do rei gorducho e
querem ler mais sobre ele, faço duas indicações. Para os fãs de quadrinhos,
existe a HQ D. João Carioca – A corte portuguesa chega ao Brasil (1808-1821),
escrita pela historiadora Lilia Mortiz Schwarcz e com desenhos de Spacca. Nessa
história, a vida do rei bonachão é retratada com bom humor e com fidelidade
histórica. A revista teve sucesso, tanto que ela foi exibida na televisão pelo
canal “Futura”. Cenas da revista eram exibidas e os personagens eram dublados.
Destaque para a voz de D.João VI, dublado por Waldyr Sant'anna responsável por imortalizar voz de Homer Simpson, na versão brasileira da animação. Outra
indicação é o livro “1808”, de Laurentino Gomes. Livro este, onde tirei muitas
referências para esse texto. Laurentino escreve de uma maneira fácil para o
grande público, um pouco da história da vinda da família real. Apesar de alguns
professores criticarem veementemente a obra, "1808" é uma obra legal para aquele
que quer conhecer um pouco da história nacional.
Fontes: Imagem: http://gibitecacom.blogspot.com.br/2008/05/corte-portuguesa-no-brasil-histria.html
Por Claudevan Rodrigues
Historiador Nerd e fã de Telecatch
" D. João VI é a minha personalidade histórica predileta"
Fontes: Imagem: http://gibitecacom.blogspot.com.br/2008/05/corte-portuguesa-no-brasil-histria.html
Por Claudevan Rodrigues
Historiador Nerd e fã de Telecatch
" D. João VI é a minha personalidade histórica predileta"
A título de contribuição, sugiro dar uma olhada em http://www.fatoscuriososdahistoria.com/2015/11/dom-joao-iv-curiosidades-D.-joao-VI.html
ResponderExcluirA título de contribuição, sugiro dar uma olhada em http://www.fatoscuriososdahistoria.com/2015/11/dom-joao-iv-curiosidades-D.-joao-VI.html
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