sábado, 22 de março de 2014

História do Brasil Burra: As bizarrices de D. João VI



Para alguns, foi um idiota. Para outros, um grande estrategista, o único a enganar Napoleão Bonaparte. D.João VI foi um rei, que sem a menor dúvida, marcou a história de Portugal e a nossa história. O caricato gordinho que comia frango possuía inúmeras características engraçadas (outras até nojentas). Estas características e algumas outras histórias caricatas serão contadas nesse pequeno texto (COM NENHUMA PRETENSÃO ACADÊMICA). Quero mostrar o lado bizarro deste rei português. Num futuro próximo, escreverei outro texto de uma maneira mais séria, abordando o histórico do rechonchudo, o por quê de tamanho despreparo para ser rei e as coisas boas do último rei absolutista de Portugal. Nas palavras do historiador Oliveira Lima, “D.João foi sem dúvida alguma no Brasil, e ainda é, um rei popular”. Popularidade esta, com certeza, vem ligada as características e histórias relacionadas à D.João.

D.João era um rei muito incomum, a começar pelo seu porte físico. Utilizando-me das palavras do historiador Ângelo Pereira, segue como era o nosso rei:

Testa alta, desproporcional ao rosto, sobrancelhas bem delineadas, papada e bochechas caídas, olhos meio esbugalhados, nariz fino, lábios grossos, boca entreaberta, pernas pequenas e grossas, pés miúdos, barriga protuberante, mãos gorduchas com covinhas nas juntas dos dedos, ombros caídos e pescoço curto. Os olhos eram pequenos, escuros, assustados, desconfiados, inseguros, como a pedir permissão para seus atos.

Dá pra perceber que D. João não era apenas mais um rostinho bonito na realeza portuguesa.

Como rei, era uma pessoa muito indecisa. Vivia jogando ministros um contra o outro. E tardava muito para tomar decisões (Mas seria isso um defeito?! Aguardem...). Muitos o achavam um verdadeiro "bundão". Não tinha uma visão positiva entre seus partidários e nem entre seus inimigos. O general Junot disse em uma carta para o Ministro das Relações Exteriores da França, Charles Maurice de Talleyrand:

É um homem fraco, que suspeita de tudo e de todos, cioso de sua autoridade mas incapaz de fazer-se respeitar. É dominado pelos padres e só consegue agir sob a coação do medo.

Não era muito chegado á higiene pessoal. Não é segredo para ninguém que os europeus não são tão fãs de banhos. Tanto é, que quando os primeiros gajos chegaram à terra Tupiniquim, estranharam o costume dos moradores locais de tomarem tantos banhos de rios. D. João não era diferente. Mais do que isso, levava isso muito a sério. Segundo fontes de Águas de Lindóia, D.João teria tomado apenas dois banhos: um quando nasceu e outro por indicação médica. Nem com a chegada ao Brasil isso mudou. Na verdade, sua estada na terra do carnaval só intensificou o problema: D. João tinha medo de siris e caranguejos. É impossível imaginar que D.João substituísse seus franguinhos por frutos do mar.

O desleixo não ficava apenas na higiene pessoal. Passava também pelas roupas do gordinho. Quando se pensa em reis, logo se pensa em luxo, artigos finos. Mas não é o caso do nosso rei. A indumentária predileta de D.João era uma “casaca sebosa de galões velhos, puída nos cotovelos” diz o historiador Pedro Calmon. Na algibeira desse casaco, estavam alocados os tão famosos franguinhos assados na manteiga, sem ossos, que o rei comia durante o intervalo das refeições. Mesmo a roupa apresentando inúmeros rasgos, o rei continuava a usar. Seus criados esperavam ele dormir para poder costurar os rasgos. Dessa história, consigo ver um lado positivo: D.João foi o pioneiro da moda Punk.

Essa repetição das roupas se liga à outra peculiaridade do rei luso: era um homem de hábitos. Hoje ele seria diagnosticado com TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Ele seguia fielmente sua rotina diária, sem mexer em nenhum aspecto. O pintor Manuel Porto Alegre comenta:
Se uma vez dormia em um lugar, jamais queria dormir em outros, levando isto ao ponto de não admitir que o leito ficasse mais ou menos aproximado à parede do que junto dela. Qualquer mudança que experimentasse, desconfiava dela e se aborrecia com quem a fizesse.
Além de ser diagnosticado com TOC, hoje D. João seria diagnosticado com depressão. O monarca sofria de crises depressivas (Imagine-o deitado num divã e comendo os franguinhos). Em alguns períodos, se afastava de todos, vivia sozinho. Nem a sua atividade predileta, que era a caça, queria mais fazer. Além disso, sofria de vertigem e crise de ansiedade. Aproveitando-se disso, a rainha Carlota Joaquina tentou um golpe de estado, para poder governar sozinha o país. Golpe esse que não foi o primeiro e nem o único.

            Percebe-se que a relação de D.João com Carlota Joaquina não era das melhores. Como todos os casamentos reais, o enlace foi arranjado e apenas para estreitar os laços entre Portugal e Espanha. Esta era uma prática comum dos reinos absolutistas. E tem gente que reclama de agências de encontro... Muito antes dos namoros pela internet, casaram-se a distância. Conheceram-se um mês após o casamento. Detalhe para as idades: a Carlota tinha 10 anos, enquanto D.João tinha 17. Apesar de serem tão “avançados” por esse casamento à distância, só deitaram na mesma cama 6 anos depois. Mas não perderam tempo: tiveram nove filhos. Se bem que... D.João não garantia a paternidade de todos (bora chamar o Ratinho, que isso é DNA). Muito se levantou sobre casos extraconjugais da rainha. Nunca houve confirmação de nenhum. Com o tempo, cada um foi morar em um canto: Carlota e a família ficaram no Palácio de Queluz, enquanto D.João foi viver no Palácio de Mafra, com os frades. No Brasil, a distância continuava: D. João foi morar na Quinta da Boa Vista, enquanto Carlota foi morar numa chácara em Botafogo (Vasco da Gama então, nem pensar!!)

            D.João não foi corno omisso. Eugênia José de Menezes, dama de honra de Carlota, foi o grande amor do nosso querido rei caricato. Em 1803, ela apareceu grávida. O maior suspeito foi D.João que mantinha encontros secretos com a rapariga (não é o que estão pensando... Rapariga é moça em Portugal).  Quando tudo parecia perdido, o médico João Francisco de Oliveira ( que ajudou o rei nos encontros com a moça) fugiu com ela para Espanha. Eugênia teve sua filha num convento. Morreu em 21 de Janeiro de 1818, época em que D.João já era rei. Todas as despesas do amor de D.João foram pagas pelo monarca. Já Oliveira, em 1820, ganhou a comenda da Ordem de Cristo e encarregado dos negócios de Portugal em Londres. Afinal, uma mão lava a outra...

            Mas não para por ai... D.João pode ter sido o primeiro rei homossexual que se tem notícia. Como já dito, D.João vivia muito sozinho (tanto em Portugal, como no Brasil) e teria se “envolvido” com o camareiro Francisco Rufino de Sousa Lobato. O camareiro teria a função de masturbar o "joãozinho" do rei com certa frequência. Um padre teria visto tal cena, mas foi logo transferido para Angola. Não se sabe se o caso foi real ou se foi uma intriga. Mas o fato é que Francisco José Rufino recebeu muitas honrarias e promoções nesse período.

            Como vimos, D.João era um rei muito caricato e também com muitas esquisitices.  Mas sua vida não se resume a esses casos bizarros. No próximo texto, falarei um pouco da história do Rei e a vinda para o Brasil.

            Caso gostaram do rei gorducho e querem ler mais sobre ele, faço duas indicações. Para os fãs de quadrinhos, existe a HQ  D. João Carioca – A corte portuguesa chega ao Brasil (1808-1821), escrita pela historiadora Lilia Mortiz Schwarcz e com desenhos de Spacca. Nessa história, a vida do rei bonachão é retratada com bom humor e com fidelidade histórica. A revista teve sucesso, tanto que ela foi exibida na televisão pelo canal “Futura”. Cenas da revista eram exibidas e os personagens eram dublados. Destaque para a voz de D.João VI, dublado por Waldyr Sant'anna responsável por imortalizar voz de Homer Simpson, na versão brasileira da animação. Outra indicação é o livro “1808”, de Laurentino Gomes. Livro este, onde tirei muitas referências para esse texto. Laurentino escreve de uma maneira fácil para o grande público, um pouco da história da vinda da família real. Apesar de alguns professores criticarem veementemente a obra, "1808" é uma obra legal para aquele que quer conhecer um pouco da história nacional.







 Fontes: Imagem: http://gibitecacom.blogspot.com.br/2008/05/corte-portuguesa-no-brasil-histria.html

Por Claudevan Rodrigues

Historiador Nerd e fã de Telecatch

" D. João VI é a minha personalidade histórica predileta"

2 comentários:

  1. A título de contribuição, sugiro dar uma olhada em http://www.fatoscuriososdahistoria.com/2015/11/dom-joao-iv-curiosidades-D.-joao-VI.html

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  2. A título de contribuição, sugiro dar uma olhada em http://www.fatoscuriososdahistoria.com/2015/11/dom-joao-iv-curiosidades-D.-joao-VI.html

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